domingo, 27 de junho de 2010

Da punheta

Hoje por volta da hora do almoço ligou-me uma gaja que de vez em quando se lembra de me chatear os cornos porque, segundo diz, “tem saudades minhas”.

A ilusão de que sou amigo dela começou no dia em que fomos os dois chamados ao gabinete do director da escola no 6º ano, quando foi apanhada pela stôra Matilde a bater-me à punheta na aula de EVT. Lembro-me bem desse dia, por acaso. Para tentar minimizar um bocado a gravidade da situação ocorreu-me dizer à stôra enquanto me arrastava pela orelha até ao gabinete que a punheta me tinha dado vontade de mijar, e pedi autorização para ir num instante aliviar a bexiga. Estranhamente compreensiva lá me deixou ir, e pus de imediato o meu plano em acção. Pedi um isqueiro a um amigo meu do 7º ano que já fumava e mal entrei na casa-de-banho peguei fogo ao armário do papel higiénico, pondo depois a culpa no dono do isqueiro. Enquanto a stôra e o director berravam com os bombeiros e o aluno do 7º ano (que acabou por nunca concluí-lo), fiquei com a gaja no gabinete do director a aguardar a admoestação pelo agora insignificante incidente da punheta. Bom, isto tudo para dizer que enquanto esperava, como não havia nada melhor que fazer, fodi a pita na secretária em cima dos boletins de avaliação. E isto causou-lhe muito boa impressão. Em todo o caso, acabei por estar uns anos sem vê-la porque para evitar levar uma sova disse ao gajo do 7º ano falsamente acusado de fogo posto que a autora da acusação falsa tinha sido ela, o que a obrigou a mudar de escola para escapar a ser violada simultaneamente em todos os buracos pelo gangue de repetentes mais fodido da cidade, acto graças ao qual aprenderia a não ser chiba.

Acabei por encontrá-la outra vez no 10º ano e foi nessa altura que cometi o erro de lhe dar o meu número de telemóvel como recompensa por uma mamada bem sucedida na retrete. Felizmente acabámos por nos separar porque fomos para universidades diferentes (eu estudava numa enquanto ela tirava cafés na cantina de outra), mas a puta nunca parou de me ligar a chagar-me os cornos com conversa de merda, chata do caralho.

Diga-se em boa verdade que hoje o motivo da chamada foi diferente. Ligou-me porque tinha acabado de se espetar de frente contra um poste nas imediações de um bairro social fodidíssimo (estava muito nervosa devido ao recente rompimento do seu noivado e foi passear de carro "à deriva, para espairecer", burra do caralho). A meio da chorareira pediu-me que fosse buscá-la antes que o destino tratasse de lhe cobrar com juros de mora a violação a que escapara anos antes, o que estava para a acontecer a qualquer momento a julgar pelos selváticos gritos em crioulo que se ouviam indistintamente ao longe. Enfim, como até nem estava longe do local do acidente, lá aceitei ir salvá-la. Era o mínimo que podia fazer depois daquela mamada sem minete de retribuição nos tempos do liceu.

Quase pronto para sair, enquanto calçava os ténis na sala, lembrei-me de ligar a televisão só para ver se estava a dar alguma coisa de jeito. Curiosamente, liguei-a logo num canal onde estava a passar o Annie Hall. Já o vi montes de vezes, claro, mas como a última vez tinha sido há uns meses, descalcei-me, recostei-me no sofá e pus-me a vê-lo outra vez. De início tive alguma dificuldade em concentrar-me porque o telemóvel não parava de tocar e não me apetecia levantar-me para lhe tirar o som mas depois lá parou, o que me deu ocasião de meditar descansado.

Como toda a gente sabe, a dada altura no filme o Woody Allen diz a famosa frase: "Don´t knock masturbation – it´s sex with someone I love". Por algum motivo ocorreu-me naquele momento um pensamento que nunca antes me havia passado pela cabeça: se a masturbação for realmente um acto de amor por mim mesmo, não será paneleirice bater à punheta visto que sou gajo? Gajo que ama gajo é paneleiro e ponto final, pouco importa que o gajo amado em causa seja ele próprio. Este pensamento, aliado ao número de vezes que estrafego o meu monstro ao longo do dia, confesso que me fez tremer.

Mas pouco depois fiz uma reconfortante constatação: a punheta não é tanto um acto de amor em si quanto uma simulação do acto da busca do amor. Afinal, ninguém bate sarapitolas a imaginar que se está a foder a si próprio. Isso sim, seria paneleirice tão grande quanto bater punhetas a pensar noutro gajo qualquer, é um facto. Agora, batê-las a pensar em escachar boa tranca acompanhada de ribombar de boa teta é sem dúvida à homem e não envolve qualquer espécie de paneleirice no acto.

Por outras palavras, bater à punheta acaba por ser semelhante a bater à porta do amor sem entrar, pois para entrar há que foder. O próprio Woody Allen o diz quando usa a expressão "knock masturbation". Digo que é meramente “semelhante” porque de facto há discrepâncias. Para que fosse o mesmo teríamos de bater à punheta exactamente como quem bate à porta, mas tal implicaria dar carolos na picha e julgo que todos poderemos concordar que isso derrotaria o interesse que em primeiro lugar ocasionou o surgimento da ideia de bater à punheta. De maneira que foi muito isto que concluí.

Admito livremente que o raciocínio anterior não acrescenta grande coisa a toda a literatura produzida ao longo da História dedicada à temática da punheta, mas passar a tarde de Domingo sentado no sofá a ver filmes cujos diálogos se sabem de cor não deixa de ter as suas consequências na flexibilidade neuronal de um homem. Pode ser que amanhã isto melhore. Entretanto vai dar o telejornal, deixa lá ver o que é que aconteceu à gaja que deixei apeada.

2 comentários:

  1. Caso não tenhas chegado a ver o telejornal, descobri a notícia da gaja que foi violada: http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Policia/Interior.aspx?content_id=1585172

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  2. Ora aqui está um blog de grande interesse com postagens de um refinado bom gosto. Não deixes de visitar e seguir o meu
    Cantinho do Mestre

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