sábado, 3 de julho de 2010

A Cona Inteligente

Como disse a minha avó com o seu último fôlego neste mundo, poucas horas antes de perder a batalha contra o tumor cerebral que a deixou de cama em agonia por quatro longos meses: ‘a gaja boa e inteligente é o Santo Graal da foda’.

Quer a inesperada afirmação lapidar tenha sido produto de desregulação bioquímica resultante da supramencionada patologia, quer tenha sido a verbalização da Verdade suprema que se diz que alguns vislumbram antes de morrer, o que é certo é que a velha acertou na muche. Não há nada a que o homem digno desse nome mais aspire do que afinfar com o seu falo túrgido em pito culto. E por “pito culto” entenda-se aquelas gajas que sabem o que quer dizer “falo túrgido”. Não cometa o leitor o erro comum de julgar que me refiro a todas as gajas em geral que usem óculos.

Note-se que dou razão à falecida avó não apenas com base no critério da dificuldade que sem dúvida existe em encontrar uma tipa que conjugue a um tempo um corpo de estrela porno e uma mente familiarizada com os clássicos. Não. A verdade é que a cona esperta é a mais apetecida acima de tudo pela extrema dificuldade que há em engatá-la, pois sucede que toda a gaja que tenha lido qualquer coisa mais profunda que a Caras mais do que uma vez torna-se inevitavelmente feminista, e a partir desse momento ou dá em fufa ou mete a pachacha a funcionar num regime semelhante ao dos arquivos da Torre do Tombo: só lá entra um número restrito de especialistas por ser material valioso demais para andar a ser manuseado pela ralé de unhas cagadas. Falo-vos nisto porque ontem estive na presença do Santo Graal. Eis o relato do que se passou. Atentem.

Estava eu num bar a tomar um copo com dois amigos quando entrou uma gaja que nunca antes tinha visto, conhecida de um deles. Como já tinha bebido um bocado e estava escuro confesso que de início a subestimei mas bastou vislumbrar toda a glória da sua peida em grande plano quando se dobrou para dar o beijinho de olá ao meu amigo da esquerda para confirmar que um único fim de semana na companhia daquele cagueiro seria suficiente para assegurar a solvência da indústria nacional de lubrificante até ao fim do ano. Decidi ali mesmo que, antes do nascer do Sol, algures no corpo dela haveria piça e seria a minha.

Mas a puta revelar-se-ia súcubo... Assim que se sentou começou de imediato a debitar palavras de excitação pela insuperável interpretação do King Lear a que tivera oportunidade de assistir aquando da sua estadia em Londres na semana transacta. Aproveitando o embalo, fez uma crítica sumária das suas peças shakesperianas favoritas que me deixou de queixo à banda. Não fosse o salto absolutamente ilógico que fez de repente para Dostoievsky e ter-me-ia esquecido de que era uma gaja que estava a falar. 'É certo que muita da acrimónia patente nas palavras de Ivan Karamazov na sua exposição do Grande Inquisidor a Aliosha', disse ela, 'é efeito da ferida aberta na sua mente causada pela relação atribulada que tinha com o seu pai, que todos tão bem conhecemos. Mas apesar disso, estou em crer que há um fundo de verdade na parábola. Quer dizer, qual de nós pode realmente dizer que deseja a liberdade que Ivan afirma que Cristo nos deixou em legado?’. E pondo um sorriso trocista, rematou: ‘No fundo, acho que o que todos queremos mesmo é sermos pregados à cruz ou termos o poder de pregar lá os outros. Viver sem cruz é que não!'

Depois desta sequíssima tirada intelectualóide, todos à minha excepção se puseram a rir pelo nariz de boca fechada que nem aristocratas de pila mole. Mal sabia ela que os tansos que a acompanhavam nos risinhos não tinham percebido patavina do que ela tinha dito e que estavam muito menos interessados no que ela tinha a dizer sobre os grandes êxitos do romantismo russo do que no abanar alarve das suas mamas causado por aquele estúpido ataque de hilariedade académica. “Ah, sua granda puta…”, murmurei, "com que então és dessas".

Nisto, a cabeça de um dos gajos pariu a triste ideia de alvitrar qualquer coisa bem pensada a ver se por sorte lhe calhava cona na rifa. 'De facto', disse ele, traçando a perna e juntando as pontas dos dedos, 'julgo que a própria Bíblia, se de facto foi escrita por Deus como muitos dizem, será uma obra apenas semi-autobiográfica'.

Em silêncio, a gaja olhou para ele como quem olha para o único ocupante de um elevador a tresandar a bufas. Depois disto foi a vez do outro gajo, mas não conseguiu fazer muito melhor. Quando ela lhe perguntou se ele gostava de Kafka e ele respondeu que sim porque era uma capicua, sobrei eu.

Aceitei o desafio. Aproveitando a sugestão dela começámos a conversa pelo Kafka. A partir daí tentei apanhá-la em falso no seu conhecimento de outros grandes autores absurdistas do século XX mas a gaja safava-se de todas as armadilhas que lhe punha no caminho. Tinha lido tudo, a mula. Pela primeira vez perante uma mulher, comecei a vacilar. Se continuasse assim, perderia. “Tenho de reagrupar os meus pensamentos”, pensei. Não havia hipótese, tinha de arranjar uma desculpa qualquer para sair dali por momentos que não desse ares de ser uma fuga e que ao mesmo tempo conservasse a minha aparência externa de cavalheiro bem-posto e de boas falas.

Finalmente, tendo encontrado o fraseamento adequado, levantei-me e disse: ‘Dêem-me licença por um instante, por favor. Infelizmente, a necessidade de obrar urge’. Ela fez um esgar de espanto e eu saí. “Excelente, funcionou”, pensei. “Vamos ver agora se enquanto obro me ocorre solução para esta merda”.

Sentado na sanita, enquanto o meu cu emulava o derrame da BP na louça fazendo um som semelhante ao de um quarteto desarmonioso de cuspidores de caroços de azeitona na esplanada, puxei pela cabeça até fazer variz na testa. De repente, após exalar pela fenda nalgar um comovente solfejo de cagalhão, fui transportado para uma conversa de infância com o meu tio: “Lembra-te, Príapo… para foderes uma gaja tens primeiro de fazê-la crer que está numa ilha deserta contigo. Qualquer gajo seria capaz de comer qualquer gaja se os dois estivessem tempo suficiente numa ilha deserta. A arte do engate é isso, Príapo: fazê-la crer que és o único homem no mundo. A partir daí acredita, vais ficar com o caralho mais assado que a cona da tia de tanto foder. Põe a gaja na ilha, Príapo… na ilha… na ilha”...

E acabou o flashback. Num ápice, tudo se tornou claro, inclusivamente onde nascera a expressão "cona da tia" e a razão da minha tia Mafalda coxear. Demasiado confiante para perder tempo a limpar com minúcia o barro da bilha, satisfiz-me com duas ou três lixadelas estratégicas de papel higiénico barato, subi a calça e voltei à guerra.

Eis então que fiz o que devia ter feito logo: cedi. Deixei-a ganhar as batalhas intelectuais e foquei as minhas perguntas nela. Ou seja, por muito que me arrepie, mostrei interesse nela como pessoa. Remédio santo. Depois de desbastar a capa de erudição percebi que a gaja afinal era mesmo só uma gaja. Comovida com o meu interesse pela sua personalidade, vendo ao mesmo tempo que não me intimidava pela sua inteligência, aos poucos e poucos lá fui ganhando terreno até que por fim, a piça triunfou. Estávamos finalmente os dois na ilha. Veni, vidi, fodi.

A conversa que se seguiu foi já dentro do carro, entre os meus colhões e os adenóides dela. Assim que encaixei a gaita nas suas eloquentes goelas senti-me como quem encaixa o último queijinho num jogo renhido de Trivial Pursuit. Enfim, um momento nada menos que sublime, como aquele que viveu Indiana Jones quando finalmente obteve – lá está – o Santo Graal.

Agora, se este também concede a imortalidade a quem dele beber como acontece no filme, isso já não me perguntem. Ela bem queria mas não alinhei nisso. Talvez pareça estranho mas fazer um minete a uma gaja tão esperta pareceu-me a um nível puramente racional quase como fazer um broche. E para broche, epá, não contem comigo...

3 comentários:

  1. Não há coisa que me irrite mais do que essas gajas de óculos armadas em intelectualóides dotadas de supremo conhecimento mas pouca ou nenhuma experiência de vida. Prefiro continuar a "afinfar o meu falo túrgido" nas gajas que só pensam nisso mesmo: nos falos túrgidos.

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  2. Muito me diverti ao ler este texto Príapo. Mas não sei até que ponto uma mulher feminista resista assim tanto a uma noite de sexo e a uma conquista ocasional. Afinal terá capacidade para ver este encontro com o algo esporádico e natural para ambos os sexos, não considerando ficar com a reputação manchada ou tendo perdido valor pessoal.
    Gostei da tua perspectiva sobre a ilha, no entanto, vantagem seria conseguir levá-la para a cama com muitas outras ofertas masculinas disponíveis não achas?
    Acho que revelaste o ponto fraco de qualquer mulher: o interesse depositado na sua personalidade, é isso mesmo, não são precisas conversas muito intelectuais nem debater os assuntos mais populares na caras.
    E rebates aqui a ideia que colegas meus sempre partilharam comigo: uma mulher boa e/ou inteligente nunca é muito boa na cama. Algo que sempre discordei:)

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